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O que é o jogo “Baleia Azul” e como abordá-lo na escola
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Depois de “13 Reasons Why” (“Os 13 Porquês), uma série da Netflix que aborda os motivos que fizeram uma estudante do Ensino Médio tirar a própria vida, outra história entrou na conversa e na zona de atenção de famílias e educadores do país. É jogo Baleia Azul. A “brincadeira” funciona assim: o participante faz um pacto com os “curadores”, responsáveis pelo jogo, e começa a receber desafios pelas redes sociais.
De metas simples, como assistir a filmes de terror durante a madrugada ou atravessar uma rua de maneira lenta, elas se tornam mais perigosas com o tempo. Além de mutilar partes do corpo, reza a lenda que o desafio final é cometer suicídio.
Quem tenta desfazer o pacto e parar de jogar sofre ameaças: “Os curadores dizem que vão perseguir e matar a família do participante”, conta o Coronel Arnaldo Sobrinho, do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) da Paraíba, que afirma já ter recebido mais de 20 denúncias de pais, professores e adolescentes que estariam envolvidos com o jogo, colocando a vida em risco e até recebendo ameaças.
“Jogos como esse surgem em ondas e não costumam ser muito discutidos em nenhum grupo social”, afirma Telma Vinha, professora de Psicologia Educacional da Unicamp e colunista de NOVA ESCOLA. Para ela, é importante que todas as pessoas que convivem com crianças e adolescentes fiquem atentos a possíveis mudanças de comportamento. E essa tarefa, é claro, também envolve a escola. “O mais importante é que gestores e professores identifiquem estudantes mais frágeis, que estão passando por dificuldades, e ofereçam a eles a possibilidade de ser escutados”, diz a especialista.
Cinco dicas para lidar com o assunto:
1) Identifique alunos que precisem de ajuda
Segundo Telma Vinha, alunos mais frágeis, que enfrentam dificuldades, tem tendência a aderir a desafios como os oferecidos pelo jogo Baleia Azul. As crianças são envolvidas por uma necessidade de se sentir valorizadas, pertencentes a um grupo, de fazer algo desafiador e de experimentar sensações fortes.
Esses estudantes podem estar passando por situações difíceis. Por isso, é importante que a escola passe a observar de perto mudanças de comportamento. Jovens em sofrimento tendem a ter alterações no desempenho escolar, menos apetite (e, portanto, podem perder peso), se tornar mais tímidos e ter episódios repentinos de choro. “Também é comum que eles procurem um professor de quem eles gostem apenas para estar perto mesmo. Nesses momentos, é comum que elas façam perguntas ou puxem assuntos que parecem não fazer muito sentido para o contexto”, explica Telma.
2) Crie canais de ajuda
Durante rodas de conversa, vale pedir que os alunos sugiram quais canais eles acreditam que podem ser importantes para que colegas procurem por ajuda dentro da instituição escolar. Vale discutir a diferença entre “delação” e “denúncia” com os jovens. É importante que os alunos criem confiança nos colegas para que se abram, mas que saibam que, em situações mais extremas – como em casos que podem acabar em suicídio –, acionar um adulto é fundamental. “Não se trata de ser dedo-duro, mas de pensar como podemos ajudar uns aos outros”, diz Telma.
3) Prepare a equipe para atender os estudantes
“Escutar é diferente de ouvir”, enfatiza Telma. A escuta precisa ser empática e considerar os sentimentos dos alunos. É comum que, ao encarar as reclamações dos estudantes, os adultos as diminuam ou menosprezem. Isso não pode acontecer. “Ela deve ser na direção do que o aluno sente e não se opor isso”, recomenda a pesquisadora.
4) Instrua as famílias
Mais do que apenas acionar a família quando for identificado que um aluno está passando por um momento difícil ou aderiu ao jogo Baleia Azul, vale fornecer informações para os responsáveis sobre o tema. Listar as possíveis mudanças de comportamento é uma boa opção. Também é interessante reforçar que a escuta deve dar suporte ao jovem e não retaliar suas ações e sentimentos. Em alguns casos, vale destacar que ajuda especializada pode ser encontrada em postos de saúde e Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
5) Discuta abertamente o jogo
Se a escola identificar que algum aluno está participando do jogo ou que ele entrou na conversa dos estudantes, é importante discutir abertamente sobre o assunto. Telma Vinha, da Unicamp, sugere que, em rodas de conversa, o orientador educacional (caso haja essa figura na escola) ou o próprio professor faça perguntas como:
– O que sabemos sobre o jogo?
– O quanto disso será que é verdade?
– Por que os “curadores” têm interesse em manipular os participantes?
– Por que as pessoas participam do jogo?
Compreendendo melhor essas questões, os estudantes podem repensar a vontade de participar ou não dele. Durante a conversa, procure não apresentar julgamentos. “Apenas chegar e dizer: ‘isso é errado’, ‘não façam isso’ afasta a possibilidade de diálogo com os estudantes”, afirma a pesquisadora.